DE CASO COM A SOLIDÃO
Estar de caso com a solidão é reescrever sobre um bloco de notas o Eu sozinho que ali sempre estivera acompanhado, rumando outras direções.
É o momento estático dos ponteiros da balança interior, apontando qual o peso flexível do ser que se revê através dos (des)apontamentos da vida.
É um sentir modificado, reestruturando pensamentos do que se teve e tem, ou que ainda se almeja, estendendo-se no retrovisor de um circuito fechado, antenado às janelas que descortinam decisões de caminhos por estradas floridas ou por túneis sombrios.
É o sentar-se consigo mesmo no centro da alma, e olhar frente à frente todos os que se foram, os que ordenaram, os que sonharam, os que vigiaram, os que permitiram, os que solicitaram, os que realizaram e os que nada fizeram.
Estar de caso com a solidão é sentir o estado transitório do descolorimento, onde se criam frestas nos tons dos portais das essências que nos refletem e regem, vestindo-nos de transparências na face do novo.
É a releitura no reverso da ação. Vive-se mais a contemplação num regalar-se em si, de excessos e de vazios, junto da taça do fel e dos seus antídotos, bebendo a fluidez das vozes da solidão.
É nesse momento que se ouvem os sons de uma repaginação no impossível das nossas buscas... no talvez... no quem sabe... nos nãos e nos sins, por essas trilhas do ir sòzinho agregando em si uma nova visão, compondo no rodapé das páginas vividas a retomada de escolhas.
Permitir-se só, sem ficar de fora do que se tem por dentro, num estado de ponte interior para se fazer travessias ao longo do tempo, é saudável e necessário, pois se a solidão por vezes nos retrocede também nos alavanca ao encontro da pedra polida da nossa própria história.
Vilma Piva
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